Posto aqui trechos de um texto da poeta portuguesa Sophia de Mello Breyner Andresen , pois é, na minha opinião, uma das definições mais lindas sobre o que é poesia.
"Eu sei que nunca se dirá tudo o que a poesia é. Nenhuma análise, nenhuma teoria explicará o que a torna tão necessária a alguns homens e o que a torna tão indiferente a outros.
Aqueles que tem o sentido da poesia reconhece-a imediatamente, como aquele que tem sede reconhece a água. Sem necessidade de análise, de conceitos ou de teorias.
Mas aquele que não tem o sentido da poesia não a reconhece nunca, por maior que seja a sua cultura e por mais vasta que seja a sua informação.
Nenhum sistema de filosofia, nenhum tratado de estética pode ensinar a distinguir um poema verdadeiro dum falso poema..
Sabemos que a poesia é uma necessidade, mas que não é uma necessidade geral.
Como necessidade, sabemos que ela é uma necessidade elementar e vital e não uma necessidade secundária.
De facto, um homem que precisa de poesia precisa dela, não para ornamentar a sua vida, mas sim para viver.
Precisa dela como precisa de comer ou de beber. Precisa dela como condição de vida, sem a qual tudo é apenas acidente marginal e cinza morta.(...)
(...) Se o poeta procura tanto a solidão, não é só para fugir ao rumor e à agitação, mas também para ver as coisas quando elas ainda estão sozinhas. A emoção que sentimos ao entrar numa casa deserta ou num jardim abandonado, é a emoção de vermos como as coisas sem nós existem, na sua própria realidade, em si. É com esse em si que o poeta quer entrar em relação.(...)
(...) A atitude do homem da ciência perante a Realidade é igual à atitude dum anatomista perante um corpo morto que ele estuda e analisa.
A atitude do poeta perante à Realidade é igual à atitude do amante perante um corpo vivo com o qual ele se encontra, vive, se une e se confunde.
A poesia só é conhecimento por conseqüência, isto é, na medida em que de todo o encontro nasce necessariamente conhecimento.
O poeta não tem curiosidade do Real, mas sim necessidade do Real. A verdadeira ânsia dos poetas é uma ânsia de fusão e de unificação com as coisas."