sexta-feira, 30 de outubro de 2009

É preciso fraturar nossos corpos para podermos amar. Nos livrar das vértebras do ser, da estrutura calcificada da mente e permitir que a carne, os músculos e os tecidos da língua encontrem seu caminho próprio de transcendência no outro. Como um solo de jazz que passeia pela noite e invade janelas alheias, serpenteando nucas, acariciando pontas de dedos e lábios e despertando bichos ancestrais e seres mitológicos que não sabíamos habitar-nos.

quinta-feira, 22 de outubro de 2009

Constatação.

Todo mundo mete o pau do Nietzsche porque ele matou Deus.
E o Sócrates, que matou o Olimpo inteiro?

quarta-feira, 21 de outubro de 2009

Tempo passa
tempera os passos
esboça traços
pros meus
tropeços.

peço riscos
jogo, juro
tempo é poço
pros meus
escuros.

curo, corro
no fim aceito
tempo é verbo
dos meus
sujeitos.

vida é morte
cala frios
tempo é o nada
dos meus
vazios.

quarta-feira, 7 de outubro de 2009

Obra prima

NO QUE CONCERNE AO BELO TEATRO DO ORGASMO FINGIDO *

O fingimento do gozo também pode ser uma prova de amor, como o amor vadio das putas;

antes o fingimento do que a ausência da dramaturgia amorosa de fato;

tem um quê de distanciamento brechtiano no orgasmo fingido;

tem até mesmo um gozo que deveras sente;

tem mais de verossímil no fingido do que em muitos ditos verdadeiros;

a favor das que fingem com decência;

melhor que fingir a velha dor de cabeça;

contra a verossimilhança exagerada dos orgasmos com caras & bocas;

a favor do agrado do teatro, puro teatro, como na canção almodovariana de La Lupe.

(Xico Sá)

sobre o parêntese perdido

Faz tempo que perdi o meu parêntese direito.

E nem penso em reencontrá-lo tão cedo.

Da finalidade da filosofia

terça-feira, 6 de outubro de 2009

Às vezes penso...
na finalidade de se pensar em finalidades.
na felicidade de se não desejar felicidade.
no sentido de se exigir sentido.
na ilusão de se não ter ilusões.

na contradição absoluta da existência
e na existência absoluta da contradição.

às vezes penso que penso...