quinta-feira, 28 de maio de 2009

asfalto

I
Não falo mais de mim. falo da rua.
que eu pisei. e ficou.
Queria ficar. ela queria passar.
eu passo por ela. Ela fica por mim.
eu passo. Ela fica.


II
eu pinto. ela ponte.
eu, sala. ela, sola.
eu sorvo. ela serve.
eu, livro. ela, livre.
eu corro. ela carros.
eu piso. ela posa.
eu posso. ela poça.
eu passo.
eu que de todos sou ninguém.
ela que ninguém, é de todos.

terça-feira, 26 de maio de 2009

passeio

Um samba de Cartola marejando os olhos de delicadeza.
O mundo todo é essa rua, onde piso.
No peito muita saudade, e a certeza
de já ter sido em outra vida
Dom Quixote.

sexta-feira, 15 de maio de 2009

Bom dia

Quando o despertador toca de manhã, sempre programo mais 10 minutos de sono. É falta de educação sair da casa do sonho sem se despedir.

terça-feira, 5 de maio de 2009

teia

Se o eu é sempre outro e sendo outro é sempre o mesmo,
Quero que meu outro seja o seu mesmo e que seu outro
Seja eu. E que o outro nunca seja o mesmo, pra que sejamos, mesmo
intermináveis.

segunda-feira, 4 de maio de 2009

Aborto

Eu tendo a ser azul por natureza, a ser distante por escolha, a ser eu mesma, covardia.
Somos tantas coisas ao mesmo tempo, tudo é tanta coisa junto (elétrons, ácidos, sentimentos, memória), que a incoerência é inevitável. Não há em quem acreditar, não há em QUE acreditar, e se não existe tempo mesmo, como anda falando um tal de Borges, somos todos grandes mentirosos. O que se fala hoje se desmente amanhã. As palavras nascem mortas e caem das bocas pretas. É tudo desejo, é tudo faísca e cinza.
A linguagem é um aborto.

E eu queria o anterior ao código, o que existe antes das palavras, o que não se pode manipular. não existe saída. não existe problema. é só linearidade mal projetada. Deus é um arquiteto fracassado.