segunda-feira, 21 de setembro de 2009

De como eu sai do labirinto

Um ano depois de terminar meu relacionamento com o sr.Tiago, numa das "conversas-terapia-comovaiavida" que ainda temos de vez em quando, me deparei com uma pergunta que me pegou de jeito: “Ju, olhar para mim te faz duvidar se você realmente existe?”
Na hora eu dei uma resposta idiota, mas alguma coisa me dizia que ali estava a porta de saída do labirinto, do meu eterno suspiro nostálgico que não consegue superar o fim de nós dois, mesmo sabendo que o amor já era a tempos...”realmente existo?” ... pra onde quer que eu fosse, ela estava lá, essa pergunta tava me massacrando. Tinha chegado o momento de dissecar a ferida, parar de ficar limpando os sangramentos com paninhos de autopiedade, destruir a fantasia, encarar minha consciência de forma objetiva. Não encarar o fim do meu relacionamento era uma questão de amor ou de ego?

I) Eu preciso do outro para perceber as estruturas do meu “eu”.

Nós, humanos, somos o que não somos. A nossa relação de existência é baseada na falta. É assim que a gente costuma fazer com tudo, a linguagem é um bom exemplo para isso -um nariz só é nariz à medida que não é boca. Todas as coisas estabelecem sua existência por comparação com o outro e pela falta do outro. Uma coisa é uma coisa porque não é outra coisa. Acontece que quem comanda essa relação é a nossa própria consciência, que às vezes nos constrói ciladas.

II) Somente o que é percebido existe.

Eu não posso dizer que sou tal coisa. Nem que não sou tal coisa. As coisas só existem se percebidas por uma consciência. O que você pensa que é não é o que você é (ninguém é nada), mas sim o que a sua consciência percebe dela mesma. Portanto dependemos de um “olhar afirmador” para existirmos. Grandes encontros nos fazem nos “descobrir”, caracterizarmo-nos... o olhar do Tiago me afirmava naquilo que eu queria ser. Através dele eu era “Juliana” como queria que ela fosse. Era confortável, não precisava me questionar, não precisava trabalhar meu interior... estava amparada. A isso chamamos amor, uma relação onde um protege o outro de si mesmo, uma aliança secreta contra nossa psiqué. Você me enxerga assim, e por isso eu sou. Quando tudo veio abaixo, o que era eu?

III) Todos os objetos possuem interiores ocultos e outros lados, um passado que já não é e um futuro que ainda vai ser.

Sim, olhar para o Tiago hoje me faz duvidar da minha existência. Isso dói. Ele hoje simboliza a lacuna de ausência do meu ego. O que eu fui e não sou mais...o desconforto da aliança quebrada. A falta. E vai ser pra sempre assim. Eu tive que perceber outra Juliana, questionando o que eu queria ser dalí pra frente. E ainda não me construí por completo, nem acredito que isso vá acontecer alguma hora. Somos eternas mutações. Eu ainda não me formei denovo. Mas se posso falar algo com certeza é que saí do labirinto. E que às vezes, um pouco de reflexão faz bem, ainda mais para pessoas passionais como eu. (eu?)

A Paulo Borsato, Sartre e ao mês de Setembro, meu agradecimento.

Um comentário:

Ju disse...

Caraca Ju, eis que vc descobriu o segredo de Tostines. Como fiquei feliz de entender isso! Brigada!