sábado, 1 de novembro de 2008

o óvulo do futuro

"A única maneira de teres sensações novas é construíres-te uma alma nova."(Fernando Pessoa)

Novo. nova alma.novo mundo inventado. a eterna novidade nos convida ao vôo, ao salto e à queda.
Já tinha me perguntado diversas vezes o que isso significava, porém nunca havia sentido.
"Construíres-te uma alma nova". Exercício de construção. Só que antes de construir é necessário demolir o construído.
Exercício doloroso, um suicídio diário sobreposto à fecundação do óvulo do futuro. Mutilo-me do passado e faço amor comigo mesma no mesmo instante. a gota de sangue confunde-se no gozo, e disso surge a esperança de engravidar de uma nova Juliana que já a muito deseja nascer. deseja demais e por isso muda.
Depois de um pouco mais de três anos sendo Juliana assim, quebro o que foi, estraçalho tudo, abdico do conforto do que eu amo, do conforto do que sou eu. estou só de espírito e de mim mesma. Quero engatinhar com outras pernas, aprender a andar a passos tortos, namorar com outros olhos, crescer, amadurecer em novas rugas e finalmente outra vez matar-me.
Por que é que eu tenho que amar literatura acima de cinema? Depois de armazenar mais de duzentos livros de forma maternal em mim mesma eu queimo-os hoje. o cordão umbilical foi rompido, agora sou só eu. Sem Machados nem Pessoas, sem palavras e sem rimas. vazio. É o tempo do cinema, da imagem, do tropeço e do instante. Quero sorver luz e movimento. quero olhos na tela, não mais na página.quero bobinas e trilhas sonoras.
No mesmo passo quero esquecer Chico Buarque. quero caetanear... resistir ao impulso de por pra tocar o velho cd, as velhas canções já decoradas. É o tempo do baiano, de assoviar a melodia, de errar a letra, tropeçar no ritmo e desafinar.
Deixo o namorado, o sólido e profundo, experimento experimentar. É o tempo do líquido, do contato, do risco e do fresco.
É tempo do novo, mesmo que às vezes me bata uma dor, e eu me pegue cantando "Saudades de Rosa e Sertão". Bye bye.

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