Chegou em casa arrancando as roupas numa agonia de morte, chutou os sapatos nas paredes, arranhou a pele branca a fim de se livrar daquele peso, entrou no chuveiro aos gritos e se ensaboou até a exaustão sangüinea lhe escorrer pelas pernas.
Nunca mais conseguirei me ver nua, tem uma roupa de gala impregnada na minha pele. Um vestido de veludo preto tapava-lhe o corpo até os joelhos, que a essa altura, eram só hematomas acumulados de dias de guerra no chuveiro.
Mal podia se lembrar como eram os próprios seios. A cada dia que passava, a lembrança de seu corpo ficava mais distante, como a única foto de um grande amor defunto que começa a mofar nos cantos. Ela começava a mofar dentro daquele veludo. Ela não respirava a alguns meses.
Como foi que isso veio parar em mim, eu não lembro de ter ido a nenhuma festa, nem de ter experimentado roupas desse tipo. “Este é o labirinto de Creta. Este é o labirinto de Creta cujo centro foi o Minotauro.” Talvez por baixo daquele vestido existisse um Minotauro esperando para devorar quem conseguisse desnudá-lo.
Chegou em casa arrancando as roupas numa agonia de morte.
*BORGES, Jorge Luis - Labirinto.
terça-feira, 16 de março de 2010
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Um comentário:
ótimo!! sou suspeito. hehe
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