segunda-feira, 13 de dezembro de 2010
sexta-feira, 29 de outubro de 2010
História Verídica
Um senhor deixa cair ao chão os óculos, que fazem um barulho terrível ao bater nos ladrilhos. O senhor se abaixa aflitíssimo porque as lentes dos óculos custam muito caro, mas descobre assombrado que por milagre elas não se quebraram.
Agora esse senhor sente-se profundamente grato, e compreende que o acontecimento vale por uma advertência amistosa, de maneira que se dirige a uma ótica e compra logo um estojo de couro acolchoado, com proteção dupla, como precaução. Uma hora depois deixa cair o estojo e ao abaixar-se sem maior preocupação verifica que os óculos viraram farelo. Esse senhor leva tempo para compreender que os desígnios da Providência são insondáveis e que na realidade o milagre aconteceu agora. (Júlio Cortázar, Histórias de Cronópios e Famas)
quarta-feira, 21 de julho de 2010
De manhã.
Cheguei no trabalho e ouvi um poema do velho Paulo Autran incorporando o mais velho ainda Álvaro de Campos. “grandes são os desertos e tudo é deserto.”
Ah, fragilidade matinal da alma.... essa não deveria ser ignorada.
Não há respeito próprio quando se abre a vida para Pessoa.
E eu começo a pensar que
Certas doses só deveriam ser servidas após o meio dia.
quarta-feira, 7 de julho de 2010
quinta-feira, 1 de julho de 2010
quarta-feira, 9 de junho de 2010
A fila não anda
Todos têm a sua vez de passar pela caixa registradora. Todos terão o seu momento glorioso de pagar a própria conta, um dia. O problema é que a partir do momento que se toma consciência de estar na fila, por ordem de chegada, para a morte, não se pode adquirir mais muitos bens para engrossar a compra. No máximo, enche-se o carrinho com algumas guloseimas que engordam e provocam cáries. Não existem grandes aquisições nas filas dos mercados. Fazer compras então deixa de ser um passeio para se tornar uma espera. Uma eternidade de espera.. mi-nu-to a mi-nu-to... Mas mesmo assim, os que furam as filas são covardes...
Se ao menos houvesse um caixa preferencial para quem adquiriu poucos volumes da vida!
Esse chiclete é realmente ácido...
- Próximo!
segunda-feira, 24 de maio de 2010
terça-feira, 18 de maio de 2010
terça-feira, 4 de maio de 2010
Bukowhisky
Nesses tempos de recesso, em que não posso me embreagar
Charles Bukowski me é de grande felicidade
Nele achei o ébrio tremular da consciência, o trançar de pernas da alma.
O whisky refinado por uma mente, um papel, umas bocas, uns decotes, um continente americano de sotaques.
Puro em essência, sem ressacas ao fim do poema.
O sábio acomodar-se das forças e das vontades.
sexta-feira, 9 de abril de 2010
terça-feira, 30 de março de 2010
Eu tentando fechar a porta da sala exatamente na sua cabeça peluda e suas unhas sujas de esgoto atravessando as frestas, apertando meus tornozelos fincados no chão.
Você sabe que é pesadelo, e eu tenho sono... sei que você me aguarda quando eu vacilar... é natural você me arruinar. Você sou eu.
segunda-feira, 22 de março de 2010
Mão na massa
Comigo é bem ao pé da letra, moça:
As figuras de linguagem
eu crio no meio das tuas coxas.
quinta-feira, 18 de março de 2010
O Passado
"Ninguém se separa, Rímini. As pessoas se abandonam. Essa é a verdade, a verdade verdadeira. O amor pode até ser recíproco, mas o fim do amor não, nunca. Os siameses se separam. Mas não se separam, tampouco: porque sozinhos não conseguem. Um terceiro precisa separá-los: um cirurgião, que corta pelo meio o órgão ou o membro ou a membrana que os une com um bisturi e derrama sangue e na maioria das vezes, diga-se de passagem, mata, mata um deles, pelo menos, e condena o outro, o sobrevivente, a uma espécie de luto eterno, porque a parte do corpo pela qual estava unido ao outro fica sensibilizada e dói, dói sempre, e se encarrega de lembrá-lo, sempre, de que não está nem nunca vai estar completo, que isso que lhe tiraram nunca mais poderá ter de novo." O Passado
quarta-feira, 17 de março de 2010
Dueto - de Bruna Costa
Queria me embebedar e tomar champagne com toda a classe, viver pelos dias em frente ao mar e morrer de frio diante do fondue. Ser uma coroa elegante e uma vovó toda tatuada. Ser dançarina e publicitária, aprender espanhol e francês, idolatrar sevilla e paris. Ir em um show de blues e um de rock, saber contar piada e não conseguir dar gargalhada. Me entupir de chocolate e aderir à dieta. Gostar de novela e odiar clichês, amar o moderno e morrer de paixão pelo antigo. Queria ler contos eróticos e poesias de Drummond.
terça-feira, 16 de março de 2010
Roupa de baixo
Nunca mais conseguirei me ver nua, tem uma roupa de gala impregnada na minha pele. Um vestido de veludo preto tapava-lhe o corpo até os joelhos, que a essa altura, eram só hematomas acumulados de dias de guerra no chuveiro.
Mal podia se lembrar como eram os próprios seios. A cada dia que passava, a lembrança de seu corpo ficava mais distante, como a única foto de um grande amor defunto que começa a mofar nos cantos. Ela começava a mofar dentro daquele veludo. Ela não respirava a alguns meses.
Como foi que isso veio parar em mim, eu não lembro de ter ido a nenhuma festa, nem de ter experimentado roupas desse tipo. “Este é o labirinto de Creta. Este é o labirinto de Creta cujo centro foi o Minotauro.” Talvez por baixo daquele vestido existisse um Minotauro esperando para devorar quem conseguisse desnudá-lo.
Chegou em casa arrancando as roupas numa agonia de morte.
*BORGES, Jorge Luis - Labirinto.
sexta-feira, 12 de março de 2010
Täuschung
Mas um dia a gente aprende...
ama-me.
E talvez nós protagonizemos alguma cena de Almodóvar, uma cena nunca vista, e que nunca será produzida, porque ele não nos conhece.
quarta-feira, 3 de março de 2010
Tamanho e documentos
quinta-feira, 25 de fevereiro de 2010
sexta-feira, 19 de fevereiro de 2010
cena russa
segunda-feira, 25 de janeiro de 2010
Sabedoria pública
Li a porta do banheiro público.
Naquela descarga foi embora mais de mim do que eu poderia imaginar.